sábado, 28 de dezembro de 2013

O Primeiro Olhar de Jesus 
 
 Plinio Correa de Oliveira
 
 
Na noite de Natal aconteceu aquele momento bendito em que se abriram para a vida e para o mundo aqueles olhos divinos que fazem emudecer todas as línguas.
Vamos imaginar aquela gruta como se fosse enorme, alta, grande, quase uma catedral, que não tivesse evidentemente uma arquitetura definida, mas onde o movimento das pedras fizesse pressentir vagamente as ogivas de uma catedral como existiriam na futura Idade Média.
Podemos imaginar a lapa onde ficava o berço do Menino Jesus, colocada num ponto majestoso da encruzilhada destas várias naves laterais naturais, e que uma luz celeste, toda de ouro, pairasse sobre Ele naquele momento. 
Ele estava ali, com majestade de verdadeiro rei, embora deitado em seu presépio e sendo ainda uma criança; Ele, rei de toda majestade e de toda glória.
Imaginemo-nos aproximando-nos dEle, e Ele abrindo os olhos, e no olhar aparecendo o seu lado de Rei.
No olhar aparecendo um fulgor de tal profundidade, que sentíssemos nEle um grande sábio; rodeando-O, uma atmosfera tal, que nimbasse de santidade todos aqueles que dEle se acercassem.
Uma atmosfera de pureza tal, que as pessoas não se aproximassem dali sem antes pedir perdão por seus pecados, mas, ao mesmo tempo, se sentissem atraídas a se corrigir deles pela santidade que emanava do local.
Imaginemos ali, ainda, Nossa Senhora aos pés do Menino Jesus, também Ela como verdadeira Rainha, majestosíssima, transcendente, puríssima, rezando.
Anjos invisíveis cantando em volta canções de glorificação e toda a atmosfera reinante saturada de valores tais, que dir-se-ia haver naquela pobreza e naquela miséria uma atmosfera de corte.
Provavelmente, todas as perfeições da ordem do Universo estão contidas no olhar de Nosso Senhor Jesus Cristo, de maneira que Ele tem estados de alma que correspondem a todas as belezas da criação.
No centro de todas as cores, de todas as belezas, existe a face adorável de Nosso Senhor Jesus Cristo; no centro da face adorável de Nosso Senhor Jesus Cristo, existe o olhar dele, requinte e compêndio de toda a face. 
Nosso Senhor conversa com quem imerge no olhar dele, límpido, afável, sereno, aveludado quase, mas no fundo com uma retidão, uma firmeza e uma força que enchem a pessoa ao mesmo tempo de encanto e de confiança. 
Olhar muitíssimo perceptivo, porém não à maneira de uma ponta que perfura a realidade e vê o que ela tem, mas é quase um olhar radiográfico que, sem dilacerar nada, penetra no fundo de tudo, revela e manifesta tudo, respeitando tudo.
No conjunto dos olhares dEle estão refletidos os princípios da lógica, as regras da estética e a ordem do universo.
Estão simbolizados o pulchrum e o significado interno de tudo quanto existe. É um olhar que contém tudo, é a melhor idéia que se possa fazer nesta Terra da visão beatífica.
Pois então este Rei, tão cheio de majestade, em certo momento abre para nós os olhos.
Notamos seu olhar puríssimo, inteligentíssimo, lucidíssimo. Ele penetra em nossos olhos até o mais fundo. Vê o mais fundo de nossos defeitos, mas também o melhor de nossas qualidades.
E toca neste momento a nossa alma, como tocou, 33 anos depois, a São Pedro.
Quando o pecador menos espera, por um rogo amável de Nossa Senhora, Ele sorri.
E com este sorriso, apesar de toda Sua majestade, sentimos as distâncias desaparecerem, o perdão invadir nossa alma, uma qualquer coisa nos atrair.
E, assim atraídos, caminhamos para junto dEle. Afetuosamente nos abraça e pronuncia nosso nome, dizendo:
Eu te quis tanto e te quero tanto! Desejo para ti tantas coisas e perdoo-te tantas outras tantas outras! Não pensa mais nos teus pecados! Pensa apenas, daqui por diante, em servir-me. E em todas as ocasiões de tua vida, quando tiverdes alguma dúvida, lembra-te dessa condescendência, dessa amabilidade, desse beneplácito que agora tenho para contigo, e recorre a Mim por meio de Minha Mãe, por meio dos mediadores que estabeleci entre ti e Mim, que atender-te-ei.
Serei teu amparo, tua força, e estas graças hão de te levar ao Céu para ali reinar a Meu lado por toda a Eternidade.

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