sábado, 28 de dezembro de 2013

O Primeiro Olhar de Jesus 
 
 Plinio Correa de Oliveira
 
 
Na noite de Natal aconteceu aquele momento bendito em que se abriram para a vida e para o mundo aqueles olhos divinos que fazem emudecer todas as línguas.
Vamos imaginar aquela gruta como se fosse enorme, alta, grande, quase uma catedral, que não tivesse evidentemente uma arquitetura definida, mas onde o movimento das pedras fizesse pressentir vagamente as ogivas de uma catedral como existiriam na futura Idade Média.
Podemos imaginar a lapa onde ficava o berço do Menino Jesus, colocada num ponto majestoso da encruzilhada destas várias naves laterais naturais, e que uma luz celeste, toda de ouro, pairasse sobre Ele naquele momento. 
Ele estava ali, com majestade de verdadeiro rei, embora deitado em seu presépio e sendo ainda uma criança; Ele, rei de toda majestade e de toda glória.
Imaginemo-nos aproximando-nos dEle, e Ele abrindo os olhos, e no olhar aparecendo o seu lado de Rei.
No olhar aparecendo um fulgor de tal profundidade, que sentíssemos nEle um grande sábio; rodeando-O, uma atmosfera tal, que nimbasse de santidade todos aqueles que dEle se acercassem.
Uma atmosfera de pureza tal, que as pessoas não se aproximassem dali sem antes pedir perdão por seus pecados, mas, ao mesmo tempo, se sentissem atraídas a se corrigir deles pela santidade que emanava do local.
Imaginemos ali, ainda, Nossa Senhora aos pés do Menino Jesus, também Ela como verdadeira Rainha, majestosíssima, transcendente, puríssima, rezando.
Anjos invisíveis cantando em volta canções de glorificação e toda a atmosfera reinante saturada de valores tais, que dir-se-ia haver naquela pobreza e naquela miséria uma atmosfera de corte.
Provavelmente, todas as perfeições da ordem do Universo estão contidas no olhar de Nosso Senhor Jesus Cristo, de maneira que Ele tem estados de alma que correspondem a todas as belezas da criação.
No centro de todas as cores, de todas as belezas, existe a face adorável de Nosso Senhor Jesus Cristo; no centro da face adorável de Nosso Senhor Jesus Cristo, existe o olhar dele, requinte e compêndio de toda a face. 
Nosso Senhor conversa com quem imerge no olhar dele, límpido, afável, sereno, aveludado quase, mas no fundo com uma retidão, uma firmeza e uma força que enchem a pessoa ao mesmo tempo de encanto e de confiança. 
Olhar muitíssimo perceptivo, porém não à maneira de uma ponta que perfura a realidade e vê o que ela tem, mas é quase um olhar radiográfico que, sem dilacerar nada, penetra no fundo de tudo, revela e manifesta tudo, respeitando tudo.
No conjunto dos olhares dEle estão refletidos os princípios da lógica, as regras da estética e a ordem do universo.
Estão simbolizados o pulchrum e o significado interno de tudo quanto existe. É um olhar que contém tudo, é a melhor idéia que se possa fazer nesta Terra da visão beatífica.
Pois então este Rei, tão cheio de majestade, em certo momento abre para nós os olhos.
Notamos seu olhar puríssimo, inteligentíssimo, lucidíssimo. Ele penetra em nossos olhos até o mais fundo. Vê o mais fundo de nossos defeitos, mas também o melhor de nossas qualidades.
E toca neste momento a nossa alma, como tocou, 33 anos depois, a São Pedro.
Quando o pecador menos espera, por um rogo amável de Nossa Senhora, Ele sorri.
E com este sorriso, apesar de toda Sua majestade, sentimos as distâncias desaparecerem, o perdão invadir nossa alma, uma qualquer coisa nos atrair.
E, assim atraídos, caminhamos para junto dEle. Afetuosamente nos abraça e pronuncia nosso nome, dizendo:
Eu te quis tanto e te quero tanto! Desejo para ti tantas coisas e perdoo-te tantas outras tantas outras! Não pensa mais nos teus pecados! Pensa apenas, daqui por diante, em servir-me. E em todas as ocasiões de tua vida, quando tiverdes alguma dúvida, lembra-te dessa condescendência, dessa amabilidade, desse beneplácito que agora tenho para contigo, e recorre a Mim por meio de Minha Mãe, por meio dos mediadores que estabeleci entre ti e Mim, que atender-te-ei.
Serei teu amparo, tua força, e estas graças hão de te levar ao Céu para ali reinar a Meu lado por toda a Eternidade.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

São Nicolau de Mira ou Bari
O gentil santo dos presentes natalinos
 
Plinio Maria Solimeo
 
Famoso por suas esmolas e socorro ao povo cristão, tornou-se para vários países o santo que realça as festas de Natal
 
Na vida de São Nicolau de Mira, ou de Bari, é difícil saber o que é
realidade e o que é legenda. Pois este santo do século IV foi um dos mais venerados no Oriente, antes de o ser no Ocidente. E as legendas contando maravilhas a seu respeito espalharam-se por todo o mundo.
Nicolau nasceu por volta do ano 270 em Patara, opulenta capital da Lícia (atual Turquia), de pais nobres, ricos e piedosos. Recebeu requintada educação religiosa e cívica. Na escola, evitava a companhia dos colegas perniciosos, só travando amizade com os bons e virtuosos. Crescendo, evitava os espetáculos perigosos, e domava seu corpo com vigílias, cilícios e jejuns.
Quando seus pais faleceram, Nicolau herdou grande riqueza. Mas considerou-se apenas administrador desses bens, cujos reais senhores se tornaram os pobres e os necessitados.
 
Socorro à pobreza envergonhada
 
    Basílica de São Nicolau, em Bari
Foi então que ocorreu um fato que todos os seus biógrafos narram e pintam tão bem. Um nobre caído na pobreza, não tendo como casar suas três filhas jovens e nem mesmo mantê-las, teve o satânico propósito de as prostituir para ganhar a vida. Nicolau soube do fato e ficou horrorizado. Tomando então uma bolsa com moedas de ouro, jogou-a pela janela da casa do infame, dando-lhe com isso o suficiente para casar a filha mais velha. No dia seguinte fez o mesmo, possibilitando casar a filha do meio. O beneficiado pôs-se então à espreita, para ver quem era seu anônimo benfeitor. E quando Nicolau, no terceiro dia, jogou outra bolsa para o dote da terceira filha, o nobre se lançou a seus pés, dizendo-se arrependido e agradecendo-lhe por aquele benefício. Nicolau pediu-lhe, confuso, para não tornar público o fato. Mas em vão, pois no dia seguinte toda a cidade comentava aquele grande ato de caridade.
Nicolau procurava, desse modo, remediar com suma caridade todos os necessitados. Socorria assim os enfermos e os miseráveis, libertava escravos e procurava atender todos os que sofriam por alguma causa.
Tendo falecido o arcebispo de Mira, os prelados da província e o clero elevavam fervorosas preces aos Céus, pedindo luzes para encontrar um digno sucessor. Como não chegavam a um acordo sobre quem escolher, combinaram então, por inspiração do alto, eleger bispo o primeiro cristão que entrasse na igreja no dia seguinte.
Ora, Nicolau tinha se mudado de Patara para Mira, a fim de viver mais obscuramente. E pensou logo em visitar a igreja local. Assim, bem de manhãzinha, franqueou o umbral do templo, ignorando em absoluto o que fora combinado. E foi logo apanhado e aclamado bispo. Embora resistisse, foi preciso ceder à vontade de Deus.
 
Elevação ao episcopado: luta contra os vícios
 
Nicolau tinha até então vivido de modo exemplar. Mas deu-se conta de que a elevada dignidade de que tinha sido revestido exigia ainda maior virtude. E disse para consigo: “Nicolau, esta dignidade requer outra vida. Até hoje viveste para ti. Agora hás de viver para os demais. Se queres que tua palavra persuada a grei que Deus te confiou, tens que dar eficácia às tuas exortações com o exemplo de uma vida perfeita”.1 A partir de então passava parte da noite em oração, comia uma só vez ao dia, abstendo-se de carne e vinho, dormia sobre uma dura enxerga e consagrava uma parte do tempo à oração e a outra parte à administração da diocese.
“Sua solicitude pastoral estendeu-se geralmente a todas as necessidades de seu povo. Cuidava dos pobres, dos doentes, dos prisioneiros, das viúvas e dos órfãos. Quando não os podia assistir pessoalmente, fazia-os ser visitados e assistidos por pessoas piedosas, a quem encarregava esses cuidados. Sua principal aplicação era a de conhecer as necessidades espirituais de seus fiéis e de levar-lhes os remédios eficazes. [...] Pregava contra todos os vícios, e o fazia com uma eloquência divina que o tornava vitorioso sobre todos os corações”.2
 
Salvando marinheiros de naufrágio
 
 
Num ano de grande carestia na Lícia, Nicolau soube que alguns
O Santo Bispo multiplica milagrosamente
o trigo transportado pelos barcos
barcos vindos de Alexandria, no Egito, com grande carregamento de trigo, refugiaram-se num porto perto de Mira. O santo apressou-se em ir até eles, suplicando aos armadores que fornecessem parte de sua mercadoria para remediar a extrema necessidade dos fiéis. Eles recusaram, alegando que todo o carregamento pertencia ao Estado e se destinava a Constantinopla. O bispo pediu-lhes então que cada barco fornecesse apenas certa medida de trigo, que ele retribuiria todo prejuízo junto ao administrador do tesouro público em Constantinopla. Por fim os armadores consentiram, e depois fizeram vela para o Bósforo. Quando chegaram ao destino, foram medir o trigo em seus barcos, e viram que havia a mesma quantidade deste ao partir de Alexandria. Os marinheiros narraram então, por toda parte, o prodígio operado pelo bispo santo.
 
Noutra ocasião, um navio foi surpreendido por terrível tormenta em alto mar. Seus tripulantes rogaram a Deus que, pelos méritos de seu servo Nicolau, os livrasse do perigo. No mesmo momento o santo bispo apareceu-lhes, dizendo: “Aqui estou para ajudar-vos. Tende confiança em Deus, de quem sou servo”. E, tomando o timão, dirigiu a nave em meio ao proceloso mar até o porto de Mira, e desapareceu. Os marinheiros foram então para a igreja agradecer tão grande favor. E viram ao santo no meio de seu clero. Lançaram-se então a seus pés, testemunhando seu reconhecimento. Confuso ante essa calorosa manifestação, São Nicolau lhes disse: “Dai a Deus, meus filhos, a glória desse sucesso. Quanto a mim, não sou senão um pecador e um servo inútil. Ele é Quem faz as grandes maravilhas”.
São Nicolau foi encarcerado na perseguição de Diocleciano, sendo libertado depois, com a ascensão do imperador Constantino.
Narra-se também que Nicolau apareceu em sonhos a este imperador, increpando-o por ter condenado injustamente à morte três de seus comissários. Acordando, o imperador chamou seus secretários para cientificar-se do ocorrido. E suspendeu a sentença contra aqueles inocentes.
Narra a legenda que, numa época de muita fome, um açougueiro atraiu três meninos para sua casa, matou-os e pôs os corpos num barril, querendo vender a carne como sendo de porco. São Nicolau, visitando a região à procura de alimentos para seu povo, conheceu o horrível crime do açougueiro e, com suas preces, ressuscitou os três meninos.3 Essa lenda correu o mundo e permaneceu, por exemplo, numa singela canção infantil que as crianças francesas cantavam até há pouco.
Um biógrafo do santo, o arquimandrita (superior de um mosteiro na Igreja Oriental) Miguel, narra assim sua morte: “Havendo regido a Igreja metropolitana de Mira e embalsamado o país com o perfume de uma santíssima vida sacerdotal, trocou esta vida perecedoura pelo repouso eterno” por volta do ano 341.4
Suas relíquias são preservadas na igreja de São Nicolau, em Bari. E até hoje uma substância oleosa — conhecida como Maná de São Nicolau, altamente apreciada por seus poderes medicinais — emana delas.5
 
Devoção ao santo no Oriente e no Ocidente
 
São Nicolau acompanhado de seu escudeiro Pikkie
No império bizantino, São Nicolau de Mira era venerado como um dos mais poderosos auxiliares do povo cristão. No século VI, o imperador bizantino Justiniano I construiu em Constantinopla uma basílica em sua honra. São João Crisóstomo o colocou em sua liturgia com a bela invocação: “Cânone da fé, imagem da mansidão, mestre da continência, chegaste à região da verdade. Pela humildade conseguiste o mais sublime, pela pobreza o mais opulento. Pai Nicolau, sê o nosso legado para com Jesus Cristo, para que consigamos a salvação de nossas almas”.6
Seu culto chegou à Itália em 1087, quando mercadores italianos roubaram suas relíquias e as levaram para Bari. Daí seu culto chegou à Alemanha durante o reinado de Oton II (955-983). Nesse tempo, o bispo Reginaldo de Eichstaedt (+ 991) escreveu sua vida, que se tornou muito popular. São Nicolau tornou-se também o patrono de vários países da Europa, como a Grécia, a Rússia (é patrono de Moscou), o Reino de Nápoles, a Sicília, a Lorena, e também de várias cidades da Itália, da Alemanha, da Áustria, da Bélgica, da Holanda e da Suíça.
Na Holanda ele é conhecido como Sinterklaas. Representam-no montando um cavalo branco, mitra sobre a cabeça e empunhando um báculo dourado. Segundo uma legenda, ele cavalga sobre os telhados, acompanhado de seu escudeiro Pikkie, um mouro terrível que põe num saco os meninos maus. São Nicolau visita as casas, perguntando: “Há aqui algum menino mau?” Todos respondem: “Não, Sinterklaas, aqui todos somos bons”. “Todos?” — pergunta o bispo. “Sim, Sinterklaas”. Então o santo distribui bombons a todas as crianças. Quando alguma delas não se portou bem durante o ano, em vez de bombom, o santo dá-lhe um pedaço de carvão. O mesmo ocorre no sul da Alemanha, país onde está havendo uma sadia reação contra a intromissão do Papai Noel nas festas natalinas e um ressurgir da tradição do Sinterklaas, cheia de encanto, inocência e autêntico espírito católico.
 
Investida anticatólica contra São Nicolau
 
Nos Estados Unidos e em muitos outros países, São Nicolau foi substituído pelo comercializado Papai Noel. E o espírito religioso do Natal lamentavelmente vai se extinguindo, dando lugar a outro, comercial e materialista.
Entretanto, surgiu recentemente em algumas zonas da Alemanha, um movimento popular propugnando o retorno da tradicional figura de São Nicolau nas festas natalinas e a proibição do Papai Noel — personagem imposto pela propaganda neopagã para eliminar a benéfica e secular influência católica do Santo bispo de Mira nas comemorações do nascimento do Divino Infante.
 
 
Notas:
1. Edelvives, El Santo de Cada Dia, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoça, 1949, tomo VI, p. 365.
2. Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, Paris, 1882, vol. XIV, p. 87.
3. Cfr. http://en.wikipedia.org/wiki/Saint_Nicholas#cite_ref-6.
4. Edelvives, op. cit. p. 369.
5. Cfr. Michael T. Ott, Saint Nicholas of Myra, The Catholic Encyclopedia, CD Rom edition.
6. Fr. Justo Perez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madri, 1945, tomo IV, p. 483.
 

domingo, 10 de novembro de 2013

As Verdadeiras Amizades
 
São Francisco de Sales
 
...Ama a todos os homens com um grande amor de caridade cristã,
mas não traves amizade senão com aquelas pessoas cujo convívio te pode ser proveitoso; e quanto mais perfeitas forem estas relações, tanto mais perfeita será a tua amizade.
Se a relação é de ciências, a amizade será honesta e louvável e o será muito mais ainda se a relação for de virtudes morais, como prudência, justiça, fortaleza; mas se for a religião, a devoção e o amor de Deus e o desejo da perfeição o objeto duma comunicação mútua e doce entre ti e as pessoas que amas, ah! então tua amizade é preciosíssima. É excelente, porque vem de Deus; excelente, porque Deus é o laço que a une, excelente, enfim, porque durará eternamente em Deus.
Ah! quanto é bom amar já na terra o que se amará no céu e aprender a amar aqui estas coisas como as amaremos eternamente na vida futura. Não falo, pois, aqui simplesmente do amor cristão que devemos a nosso próximo, todo e qualquer que seja, mas aludo à amizade espiritual, pela qual duas, três ou mais pessoas se comunicam mutuamente as suas devoções, bons desejos e resoluções por amor de Deus, tornando-se um só coração e uma só alma.
Com toda a razão podem cantar então as palavras de
David: Oh! quão bom e agradável é habitarem juntamente os irmãos! Sim, porque o bálsamo precioso da devoção está sempre passando dum coração ao outro por uma contínua e mútua participação; tanto assim que se pode dizer que Deus lançou sobre esta amizade a sua bênção por todos os séculos dos séculos.
Todas as outras amizades são como as sombras desta e os seus laços são frágeis como o vidro, ao passo que estes corações ditosos, unidos em espírito de devoção, estão presos por uma corrente toda de ouro. Todas as tuas amizades sejam desta natureza, isto é, todas aquelas que dependem de tua livre escolha, porque não deves romper nem negligenciar as que a natureza e outros deveres te obrigam a manter, como em relação a teus pais, parentes, benfeitores e vizinhos.
Hás de ouvir talvez que não se deve consagrar afeto particular ou amizade a ninguém, porque isto ocupa por demais o coração, distrai o espírito e causa ciúmes; mas é um mau conselho, porque, se muitos autores sábios e santos ensinam que as amizades particulares são muito nocivas aos religiosos, não podemos, no entanto, aplicar o mesmo princípio a pessoas que vivem no século — e há aqui uma grande diferença.
Num mosteiro onde há fervor, todos visam o mesmo fim, que é a perfeição do seu estado, e por isso a manutenção das amizades particulares não pode ser tolerada ai, para precaver que, procurando alguns em particular o que é comum a todos, passem das particularidades aos partidos.
Mas no mundo é necessário que aqueles que se entregam à prática da virtude se unam por uma santa amizade, para mutuamente se animarem e conservarem nesses santos exercícios. Na religião os caminhos de Deus são fáceis e planos e os que ai vivem se assemelham a viajantes que caminham numa bela planície, sem necessitar de pedir a mão em auxílio. Mas os que vivem no século, onde há tantas dificuldades a vencer para ir a Deus, se parecem com os viajantes que andam por caminhos difíceis, escabrosos e escorregadiços, precisando sustentar-se uns nos outros para caminhar com mais segurança.
Não, no mundo nem todos têm o mesmo fim e o mesmo espírito e dai vem a necessidade desses laços particulares que o Espírito Santo forma e conserva nos corações que lhe querem ser fiéis. Concedo que esta particularidade forme um partido, mas é um partido santo, que somente separa o bem do mal: as ovelhas das cabras, as abelhas dos zangões, separação esta que é absolutamente necessária.
Em verdade não se pode negar que Nosso Senhor amava
com um amor mais terno e especial a S. João, a Marta, a Madalena e a Lázaro, seu irmão, pois que o Evangelho o dá a entender claramente. Sabe-se que S. Pedro amava ternamente a S. Marcos e a Santa Petronila, como S. Paulo ao seu querido Timóteo e a Santa Tecla.
S. Gregório Nazianzeno, amigo de São Basílio, fala com muito prazer e ufania de sua íntima amizade, descrevendo-a do modo seguinte: parecia que em nós havia uma só alma, para animar os nossos corpos, e que não se devia mais crer nos que dizem que uma coisa é em si mesma tudo quanto é e não numa outra; estávamos, pois, ambos em um de nós e um no outro. Uma única e a mesma vontade nos unia em nossos propósitos de cultivar a virtude, de conformar toda a nossa vida com a esperança do céu, trabalhando ambos unidos como uma só pessoa, para sair, já antes de morrer, desta terra perecedora.
Santo Agostinho testemunha que Santo Ambrósio amava a Santa Mônica unicamente devido às raras virtudes que via nela e que ela mesma estimava este santo prelado como um anjo de Deus.
Mas para que deter-te tanto tempo numa coisa tão clara? S. Jerônimo, Santo Agostinho, S. Gregório, S. Bernardo e todos os grandes servos de Deus tiveram amizades particulares, sem dano algum para a sua santidade.
S. Paulo, repreendendo os pagãos pela corrupção de suas vidas, acusa-os de gente sem afeto, isto é, sem amizade de qualidade alguma. Santo Tomás reconhecia, com todos os bons filósofos, que a amizade é uma virtude e entende a amizade particular, porque diz expressamente que a verdadeira amizade não pode se estender a muitas pessoas.
A perfeição, portanto, não consiste em não ter nenhuma amizade, mas em não ter nenhuma que não seja boa e santa.

domingo, 29 de setembro de 2013

São Miguel Arcanjo
 
Gloriosíssimo Príncipe dos Exércitos Celestes – Modelo dos que combatem sob o estandarte da Cruz
 
   
               Há precisamente 50 anos, em memorável artigo estampado na edição de setembro de 1951, de Catolicismo, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira descrevia o Arcanjo São Miguel como modelo de várias virtudes. Por exemplo, a humildade e o espírito hierárquico. Apresenta o destemido Arcanjo como modelo de combatividade, virtude sobremaneira esquecida em nossa época relativista, encharcada de pacifismo entreguista. Segue um trecho significativo do artigo.
 
* * *

               “No dia 29 do corrente, a Santa Igreja celebra a festa de São Miguel Arcanjo. Outrora, esta data era muito vivamente assinalada na piedade dos fiéis. Hoje em dia, infelizmente, poucos são os que a tomam como ocasião especial para tributar culto ao Príncipe da Milícia Celeste. Entretanto, como veremos, o culto de São Miguel, atual para todos os povos em todos os tempos, tem títulos muito especiais para ser praticado com particular fervor em nossos dias”. ....
Modelo de combatividade
 
               “São Miguel é o modelo do guerreiro cristão, pela fortaleza de que deu prova atirando ao inferno as legiões de espíritos malditos. É ele o guerreiro de Deus, que não tolera que em sua presença a Majestade divina seja contestada ou ofendida, e que está pronto a empunhar a qualquer momento o gládio, a fim de esmagar os inimigos do Altíssimo. Ensina-nos ele que não basta ao católico proceder bem: é seu dever combater também o mal. E não apenas um mal abstrato, mas o mal enquanto existente nos ímpios e pecadores. Pois São Miguel não atirou ao inferno o mal enquanto um princípio, uma mera concepção da inteligência, e nem princípios e concepções são suscetíveis de serem queimadas pelo fogo eterno. Foi a Lúcifer e a seus sequazes que ele atirou no inferno, pois odiou o mal enquanto existente neles e amado por eles.
             “Vivemos em um tempo de profundo liberalismo religioso. Poucos são os cristãos que têm ideia de que pertencem a uma Igreja militante, tão militante na Terra quanto militantes foram no Céu São Miguel e os Anjos fiéis. Também nós devemos saber esmagar a insolência da impiedade. Também nós devemos opor uma resistência tenaz ao adversário, atacá-lo e reduzi-lo à impotência.
             “São Miguel, nesta luta, não deve ser apenas nosso modelo, mas nosso auxílio. A luta entre São Miguel e Lúcifer não cessou, mas se estende ao longo dos séculos. Ele auxilia todos os cristãos nos combates que empreendem contra o poder das trevas.”
 
Fonte: Revista Catolicismo - Setembro de 2001.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Nossa Senhora do Monte Carmelo - 16 de julho
 
José M. Moraes
 
Devoção mariana que remonta ao Profeta Elias
 
          O cenário onde nasceu a Ordem da Bem-aventurada Virgem
Maria do Monte Carmelo - instituição profética - é rico em simbolismo. Nos confins da Galiléia e da Samaria, as encostas do Carmelo tocam no mar Mediterrâneo. No horizonte, em direção ao rio Jordão, emerge o Tabor e, em toda a redondeza, outras grandes testemunhas dos mistérios da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo: Nazaré, Caná, Tiberíades, Corozaim.
           Carmelo, monte santo do Antigo Testamento! Nas florestas que outrora o cobriam, o Profeta Elias e seu discípulo Eliseu foram procurar a solidão e o recolhimento, para melhor compreenderem os desígnios de Deus e indicarem a rota que, depois, foi seguida por milhares de continuadores.
           Para compreender e adquirir verdadeira devoção a Nossa Senhora do Carmo - ou do Monte Carmelo - é de toda conveniência admirar o protótipo de varão apostólico, combativo e indomável, que disse ao próprio Criador: "Zelo zelatus sum pro Domino Deo exercituum" - "Eu me consumo de ardente zelo pelo Senhor Deus dos exércitos" (III Reis 19, 14). Este foi Elias, o Fundador da Ordem do Carmo.
 
           Elias ressuscita o filho da viúva de Sarepta
 
            Devido aos pecados cometidos em Israel, o Profeta Elias compareceu diante do Ímpio rei Acab e anunciou-lhe terrível castigo: "Viva o Senhor de Israel, em cuja presença estou, que nestes anos não cairá nem orvalho nem chuva, senão conforme as palavras de minha boca."
            Sendo a escassez já muito grande em todo o país, o varão de Deus retirou-se para Sarepta e pediu alimento a uma pobre e honesta viúva. Esta respondeu-­lhe que possuía apenas um pouco de farinha e de azeite, para ela e seu pequeno filho; consumidos esses restos morreriam de fome.
            Elias disse à viúva: "Não temas, mas vai, e faze primeiro para mim um pãozinho; e depois o farás para ti e para teu filho. Pois assim fala o Senhor Deus de Israel: a vasilha de farinha não se esvaziará e a jarra de azeite não acabará, até o dia em o Senhor Deus enviar a chuva sobre a face da terra".
             A mulher fez como Elias lhe havia dito e, como recompensa de sua fé, deu-se o milagre da multiplicação da farinha e do azeite, os quais não diminuíam nos recipientes em que estavam colocados.
              É próprio dos Santos e Profetas passarem por grandes sofrimentos. Deus exige que tenham fé e confiança heroicas.
             Depois da humilhação de ter que pedir alimento a uma pobre viúva, maior provação aguardava Elias. O único filho da viúva morreu e, aflita, a pobre mulher disse ao Profeta: "Que te fiz eu, Ó homem de Deus? Porventura vieste a minha casa para excitares em mim a memória dos meus pecados, e matares o meu filho?"
               Confiante, Elias clamou a Deus. E o Senhor atendeu sua oração e "a alma do menino voltou a ele; e ele recuperou a vida". Essa foi a primeira ressurreição de um morto realizada no Antigo Testamento.
 
Combatividade invencível
 
                O Fundador da Ordem do Carmo foi magnífico exemplo, não só de fé e confiança, mas também de combatividade.
Depois de três anos em que não caiu "nem orvalho nem chuva", Elias apresentou-se diante do rei Acab, o qual lhe disse: "Porventura és tu que trazes perturbado Israel?"
               Numa manifestação de santa ousadia, o Profeta respondeu ao rei: "Não sou eu que perturbei Israel, mas és tu e a casa de teu pai, por terdes deixado os mandamentos do Senhor, e por terdes seguido Baal".
                Depois de increpar o rei, Elias increpou o povo: "Até quando claudicareis para dois lados, inclinando-vos umas vezes para o Senhor e outras para o ídolo de Baal? Se o Senhor é Deus, segui-O; se é Baal, segui-o. E o povo não lhe pôde dar resposta".
               Elias, então, realizou no Monte Carmelo prodigioso milagre, fazendo vir fogo do céu para consumir o holocausto, a lenha e as pedras do altar por ele edificado. E, quanto aos 450 falsos profetas de Baal, principais responsáveis pelos pecados do povo, "Elias levou-os até a torrente de Cison, e lá os matou" (III Reis, 18,40).
 
Nuvenzinha símbolo da Imaculada Conceição
 
               Depois dessa extirpação salutar e admirável, Elias pôs-se
a rezar no alto do monte Carmelo, implorando a Deus que cessasse a terrível seca. Eis, então, que se levantou do mar uma "pequena nuvem, como a pegada de um homem", a qual, em pouco tempo, deu origem a uma grande chuva (III Reis, 18,44).
               Essa nuvenzinha é o símbolo de Nossa Senhora e de sua Imaculada Conceição. Porque, assim como a leve e alígera nuvem surgiu do mar salgado, sem conter seu amargor, a Virgem Maria surgiu da humanidade culpada, sem a culpa.
              Elias compreendeu esse simbolismo e foi o primeiro a cultuar Nossa Senhora. E a doutrina da Imaculada Conceição - que em 1854 foi proclamada como dogma por Pio IX - foi sempre defendida pela Ordem do Carmo.
 
Eliseu e o manto de Elias
 
             Embora se tenham passado mais de 2.800 anos, o Profeta Elias não morreu. Quando foi arrebatado desta Terra por um carro de fogo, lançou seu manto para o discípulo e também profeta Eliseu. Este, tendo pedido e recebido em dobro o espírito de Elias, passou a dirigir a Ordem do Carmo, a qual nunca se extinguiu, apesar de todas as tragédias ocorridas na Palestina.
              Segundo abalizados intérpretes da Sagrada Escritura, Elias virá no fim do mundo - juntamente com Henoc, que também não morreu - para combater o Anticristo.
 
   A primeira igreja em honra de Nossa Senhora na era cristã
 
             De acordo com piedosa tradição, atestada pela Liturgia da Igreja, no dia de Pentecostes um grupo de homens, devotos dos santos Profetas Elias e Eliseu, abraçaram o Cristianismo. Tinham sido discípulos de São João Batista, que os preparara tendo em vista o advento do Salvador. Partiram de Jerusalém e no Monte Carmelo erigiram um santuário votado à Santíssima Virgem, no mesmo lugar onde Elias vira aparecer aquela nuvenzinha anunciadora da fecundidade e, ao mesmo tempo, símbolo da Imaculada Conceição da Mãe de Deus. Adotaram eles o nome de Irmãos da Bem-aventurada Maria do Monte Carmelo.
 
Libertados pela espada dos cruzados
 
             Depois de muito sofrerem durante as perseguições movidas pelos Imperadores romanos, e na época da invasão da Terra Santa pelos maometanos, os carmelitas foram libertados pela espada dos cruzados.
             Muitos peregrinos do Ocidente entraram então na Ordem do Carmo, permanecendo na Terra Santa ou voltando para seus países de origem. Entre os novos carmelitas, destacaram-se São Cirilo, Santo Ângelo e São Simão Stock.
            Com a queda do Reino católico de Jerusalém, os carmelitas da Palestina foram novamente perseguidos pelos muçulmanos e muitos foram martirizados. São Cirilo, que se tornara Geral da Ordem, recorreu a Nossa Senhora.
            Esta apareceu-lhe e comunicou-lhe: "É vontade de Meu Filho e minha que a Ordem do Carmo não seja somente uma luz para a Palestina e a Síria, mas que ilumine o mundo inteiro. É por este motivo que Eu lhe atrai e lhe atrairei de todos os países numerosos filhos".
            De fato, a Ordem do Carmo floresceu em várias nações. Porém, no século XIII, muitas incompreensões surgiram contra ela no Ocidente.
 
Recepção do escapulário das mãos de Nossa Senhora
 
            Em 1251, São Simão Stock, alquebrado pela idade e pelas
austeridades - vivera durante vinte anos no tronco oco de uma árvore, como penitência -, foi a Cambridge, Inglaterra, para inaugurar novo convento carmelita. Mas sua alma muito soma devido às oposições de que a Ordem do Carmo era objeto sobretudo em seu país.
           Na noite de 16 de julho de 1251, no auge de sua dor, São Simão Stock rezava e sua ardorosa prece transfor­mou-se num cântico maravilhoso:
Fios Carmeli, Vitis florigera
Splendor caeli, Virgo puerpera,
Singularis,. Mater mitis
Sed viri nescia, Carmelitis, Da privilegia
Stella maris.
 
           Flor do Carmelo, Vide florida,
Esplendor do Céu, Virgem Mãe Admirável.
Mãe cheia de doçura, Sem conhecer varão,
Aos carmelitas Dai privilégios.
Ó estrela do mar.
 
              São Simão Stock rezou e cantou durante toda aquela noite de 16 de julho. Aos primeiros sinais da aurora, Nossa· Senhora apareceu-lhe rodeada de anjos, vestida com o hábito do Carmo. Ela sorria e trazia nas suas virginais mãos o escapulário da Ordem, com o qual revestiu o varão de Deus, dizendo-lhe: "Este é um privilégio para ti e para todos os carmelitas. Quem morrer portando este escapulário não cairá no inferno".
             Não podemos, entretanto, deixar-nos levar pela falsa ideia de que a simples posse e uso do escapulário é suficiente para nos obter o Céu. Para isso, é necessário levar vida cristã, cumprindo os Mandamentos.
 
Privilégio sabatino
 
            Nossa Senhora é supremamente misericordiosa e nos consegue muito mais do que Lhe pedimos. Assim, para quem porta dignamente o escapulário, concedeu a Mãe de Deus o privilégio sabatino.
            Em 1316, a Virgem apareceu ao Cardeal Tiago d'Euze, que, no dia seguinte à visão, foi eleito Papa com o nome de João XXII.
Na bula que João XXII escreveu para testemunhar essa aparição, o Papa declara que Nossa Senhora prometeu libertar do purgatório, no primeiro sábado após a morte, aqueles que morrerem com o escapulário, Daí o nome de privilégio sabatino.
            Mas para receber essa graça é necessário rezar diariamente o Pequeno Ofício da Virgem Maria, fazer abstinência de carne nas quartas-feiras e sábados, e guardar a castidade segundo seu estado. As duas primeiras práticas podem ser comutadas pelo sacerdote autorizado a impor o escapulário.
 
Vinde Mãe, não tardeis!
 
            A Ordem do Carmo forneceu à Santa Igreja um número incontável de Santos. Entre eles, destacamos São João da Cruz e Santa Teresa de Ávila, que promoveram, no século XVI, a Reforma da Ordem, na qual se haviam introduzido muitos abusos. E no século passado, um florão desabrochou na Ordem Carmelitana: Santa Teresinha do Menino Jesus, que representou um marco na espiritualidade católica.
           Neste fim de milênio em que a avalanche neopagã entroniza modernos Baals, sempre mais cultuados, recorramos de modo especial a Nossa Senhora do Carmo e a Santo Elias.
          Assim como o Fundador da Ordem carmelitana exterminou os profetas de Baal, conceda-nos ele a insigne graça de sermos implacáveis com nossos defeitos. E que tenhamos a combatividade sagrada para travarmos uma luta sem tréguas contra os erros e vícios de nossa época, com a mesma radicalidade e zelo que animaram o Profeta do Monte Carmelo.
            E, considerando que a abominação está atingindo os lugares mais insuspeitados, peçamos com ardor a Nossa Senhora: Vinde Mãe, não tardeis! Fazei cessar essa situação ominosa e que venha com urgência o Reino de Vosso Imaculado e Sapiencial Coração, profetizado por Vós em Fátima!
 
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Obras consultadas:

- Bíblia Sagrada, Edições Paulinas, São Paulo, 1933, livros 111 e IV dos Reis.
- Plinio Corrêa de Oliveira, O Escapulário, a Profissão e a Consagração Interior - Conferência pronunciada no III Congresso Nacional da Ordem Carmelitana, em 15-11-1958, publicada no "Mensageiro do Carmelo", nº especial, 1959.
- M. M. Vaussard, Le Carmel, Bernard Grasset, 1929.
- Dom Prosper Guéranger, L'Année Liturgique, Maison Alfred Mame et Fils Éditeurs Pontificaux, Tours, 1922, tomo IV.
- Jean Le Solitaire, Aux Sources de Ia Tradition du Carmel, Beau­chesne, Paris, 1953.
- Padre Gabriel de Sainte Marie Madeleine, Mater Carmeli - La Vie Mariale Carmélitaine, College International de Ste. Thérese, Roma, 1931.
- Padre João Batista Lehmann, Na Luz Perpétua, Livraria Editora Lar Católico, Juiz de Fora, 1950, vol. 11.
- Vies des Saints iIIustrées pour tous les jours de I'année, Maison de Ia Bonne Presse, Paris, s/d, festa de 16 de julho.
 


sexta-feira, 7 de junho de 2013

O Sagrado Coração de Jesus

Plinio Corrêa de Oliveira
Legionário, N.º 458, 22 de junho de 1941
 
 
           Insistentemente, tem os Santos Padres recomendado que a humanidade intensifique o culto
que presta ao Sagrado Coração de Jesus a fim de que, regenerado o homem pela graça de Deus e compreendendo que deve ser Deus o centro de seus afetos, possa reinar novamente no mundo aquela tranquilidade da ordem, da qual mais distante estamos, quanto mais o mundo descamba pela anarquia.
  Assim, não poderia... deixar desapercebida a festa... do Sagrado Coração. Não se trata apenas de um dever de piedade imposto pela própria ordem das coisas, mas de um dever que a tragédia contemporânea torna mais tragicamente premente. 
Não há quem não se alarme com os extremos de crueldade a que pode chegar o homem contemporâneo. Essa crueldade não se atesta apenas nos campos de batalha. Ela transparece a cada passo, nos grandes e nos pequenos incidentes da vida de todo o dia, através da extraordinária dureza e frieza de coração com que a generalidade das pessoas trata seus semelhantes.
As mães em cujas entranhas decresce de intensidade o amor pelos filhos; os maridos que atiram à desgraça um lar inteiro, com o único intuito de satisfazer seus próprios instintos e paixões; os filhos que, indiferentes à miséria ou ao abandono moral em que deixam seus pais, voltam todas as suas vistas para a fruição dos prazeres desta vida; os profissionais que se enriquecem às custas do próximo, mostram muitas vezes uma crueldade fria e calculada, que causa muito mais horror do que os extremos de furor a que a guerra pode arrastar os combatentes. Realmente, se bem que na guerra os atos de crueldade se possam mais facilmente aquilatar, os que os praticam tem, se não a desculpa, ao menos a atenuante de que são impelidos pela violência do combate. Mas aquilo que se trama e se realiza na tranquilidade da vida quotidiana não pode muitas vezes beneficiar-se de igual atenuante. E isto sobretudo quando não se trata de ações isoladas, mas de hábitos inveterados que multiplicam indefinidamente as más ações.
A guerra, tal qual ela é hoje feita, é um índice de crueldade, mas está longe de ser a única manifestação da dureza moral contemporânea.
Quem diz crueldade diz egoísmo. O homem só prejudica seu próximo por egoísmo, por desejar beneficiar-se de vantagens a que não tem direito. Assim, pois, o único meio de extirpar a crueldade consiste em extirpar o egoísmo.
Ora, a teologia nos ensina que o homem só pode ser capaz de verdadeira e completa abnegação de si mesmo quando seu amor ao próximo é baseado no amor de Deus. Fora de Deus não há, para os afetos humanos, estabilidade nem plenitude. Ou o homem ama a Deus a ponto de se esquecer de si mesmo, e neste caso ele saberá realmente amar o próximo; ou o homem se ama a ponto de se esquecer de Deus, e, neste caso, o egoísmo tende a dominá-lo completamente.
Assim, é só aumentando nos homens o amor de Deus, que se poderá conseguir deles uma profunda compreensão de seus deveres para com o próximo. Combater o egoísmo é tarefa que implica necessariamente em “dilatar os espaços do amor de Deus”, segundo a belíssima frase de Santo Agostinho.
Ora, a festa do Sagrado Coração de Jesus é, por excelência, a festa do amor de Deus. Nela, a Igreja nos propõe como tema de meditações e como alvo de nossas preces o amor terníssimo e invariável de Deus que, feito homem, morreu por nós. Mostrando-nos o Coração de Jesus a arder de amor a despeito dos espinhos com que O circundamos por nossas ofensas, a Igreja abre para nós a perspectiva de um perdão misericordioso e largo, de um amor infinito e perfeito, de uma alegria completa e imaculada, que devem constituir o encanto perene da vida espiritual de todos os verdadeiros católicos.
Amemos o Sagrado Coração de Jesus. Esforcemo-nos por que essa devoção triunfe autenticamente (e não apenas através de alguns simbolismos da realidade) em todos os lares, em todos os ambientes e, sobretudo, em todos os corações. Só assim conseguiremos reformar o homem contemporâneo.
Ad Jesum per Mariam”. Por Maria é que se vai a
Jesus. Escrevendo sobre a festa do Sagrado Coração, como não dizer uma palavra de comoção filial ante esse Coração Imaculado que, melhor do que qualquer outro, compreendeu e amou o Divino Redentor? Que Nossa Senhora nos obtenha algumas faíscas daquela imensa devoção que tinha ao Sagrado Coração de Jesus. Que Ela consiga atear em nós um pouco daquele incêndio de amor com que Ela ardeu tão intensamente, são nossos votos dentro desta oitava suave e confortadora.

sábado, 25 de maio de 2013

Corpus Christi 2013


 
Igreja do Imaculado Coração de Maria
Cardoso Moreira-RJ.
 
30 de maio de 2013Quinta-feira.                
 
18:00 – Santa Missa
A seguir – Procissão Eucarística, com várias Bênçãos, na Rua Sebastião Zaquieu, indo até a Capela de Nossa Senhora das Graças  no Bairro Catarino.
Compareçam todos, para prestar homenagens de verdadeira Fé, acendrado amor e de adoração a Jesus na Santíssima Eucaristia! 
Valiosa e bem vinda sua ajuda em material ou em dinheiro para custear as despesas do evento religioso!
Participem! Venham nos ajudar! Sua presença é importante! 
Tragam sua família, seus amigos, colegas e vizinhos
para estarmos juntos a Jesus na Eucaristia.
Contamos com a presença de todos!


Pensamento da Festa
 

A Igreja Católica comemora uma das mais belas solenidades do seu calendário Litúrgico em honra de Jesus Eucarístico. Dia de festa, de pompa e de requintes! Jesus na Santíssima Eucaristia nos envolve numa atmosfera de piedade, de entusiasmo e devoção. A fé nos convida constantemente a trilhar e seguir os caminhos sublimes das harmonias e beleza da única Igreja verdadeira, que nos ensina que Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, está presente na Hóstia Consagrada.
A confecção dos tapetes de sal, seus desenhos variados e enriquecidos pela multiplicidade das cores nos dão um aspecto fascinante! O Homem – Deus na Santa Hóstia Consagrada, Rei dos nossos corações é digno de todo louvor!
Coração Eucarístico de Jesus, Tende piedade de nós!
Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, Rogai por nós!
 
Jesus na Eucaristia,
Ele é o caminho, a verdade e vida!


 

domingo, 24 de março de 2013

PROGRAMAÇÃO DA
Semana Santa 2013

Igreja do Imaculado Coração de Maria
Cardoso Moreira-RJ

De 24 à 31 de março de 2013

“Meu povo que te fiz eu?Ou em que te contristei? Responde-me. Por te haver tirado da terra do Egito, preparaste uma Cruz para o teu Salvador.
“Porque te conduzi pelo deserto, te alimentei com o maná, e te introduzi numa terra excelente, preparaste uma Cruz para teu Salvador.
“Que mais te deveras fazer, que não tivesse feito? Qual vinha especiosa te plantei, e tu para mim te converteste em excessiva amargura, pois em minha sêde me deste de beber vinagre, e com uma lança atravessaste o lado de teu Salvador.
Alimentei-te com o maná do deserto; e tu me feriste com bofetadas e açoites; e tu me puseste na cabeça uma coroa de espinhos.”

PROGRAMAÇÃO


Domingo de Ramos – 24 de março

7h00 – Benção distribuição e Procissão dos Ramos Bentos. Santa Missa com leitura da Paixão.
18h - Homenagem piedosa dos fiéis ao Encontro de Jesus com sua Mãe Santíssima
em praça pública. Homens com N.Sr. dos Passos e as senhoras com a Virgem dolorosa.
19h30 - Santa Missa vespertina festiva cantada.


Segunda-feira Santa – 25 de março.

confissões: das 16h às 19h

Das 9h às 12h - Visita aos doentes
9h30- Via Sacra para as crianças
15h30 - Via Sacra para as crianças
18h - Santa Missa
18h30 -Via Sacra solene

Terça-feira Santa – 26 de março.

Confissões: das 16h às 19h
Das 9h às 12h - Visita aos doentes
9h30- Via Sacra para as crianças
16h30 - Via Sacra para as crianças
18h - Santa Missa
18h30 - Via Sacra solene

Quarta-feira Santa – 27 de março.

Das 9h às 12h - Visita aos doentes
9h30- Via Sacra para as crianças
15h30 - Via Sacra para as crianças
18h - Santa Missa
18h30-Via Sacra solene

Quinta-feira Santa – 28 de março.

SOLENE COMEMORAÇÃO DA ÚLTIMA CEIA
9h - Visita aos doentes — Confissões: Das 16h às 18h30
19h - Santa Missa Solene em que se comemoram:
I- A instituição da Eucaristia - O Sacerdócio Católico - O Novo Mandamento – O Lava-pés
II - Transladação do Ssmo. Sacramento
III - Desnudação dos Altares
IV - Adoração do Ssmo. Sacramento - Das 21h às 23h - Apostolado da Oração
- Das 23h às 01h - Srs. ho­mens em geral

Sexta-feira Santa -  29 de março.

Comemoração da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo
(dia de jejum e abstinência) Jejum a partir de 18 anos

“Dai forças, óh meu Deus, ao estudante que vacila em proclamar o Vosso nome em plena aula ... dai forças, ó meu Deus à moça que deve proclamar Vosso nome, recusando-se a vestir os trajes que
a moda impõe... dai forças, ó meu Deus, ao apóstolo que sofre a investida inclemente dos
adversários de vossa Igreja” (Legionário, abril de 1943)
9h - Via Sacra pública e Confissões até às 12h
15h - Solene Ação Litúrgica comemorativa da Morte de Nosso Senhor
I- Parte: Leituras; Profecias e Narração da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo
II- Parte: Orações solenes
III- Parte: Adoração da Santa Cruz­
IV- Parte: Comunhão
19h — Cerimônia do Descendimento da Cruz – Sermão- Cânticos abrilhantando o cerimonial pelo Coral da Igreja.
- Homenagem habitual de todos os fiéis ao Senhor Morto.

Obs. Todos devem empenhar-se em assistir todas às cerimônias da Semana Santa, sobretudo às procissões próprias a nos lembrar o mistério augusto de Nosso Senhor que deu a vida por nós, abrindo as portas do Céus e instituindo a Santa Igreja Católica, Apostólica e Romana. Não deixar de fazer uma boa confissão e receber a Sagrada Comunhão, para cumprir o preceito pascal.

Sábado Santo – 30 de março.
“Ó noite verdadeiramente ditosa, que foste a única a conhecer o tempo e a hora.
em que Cristo Ressuscitou do Sepulcro.”
21h - Solene Vigília Pascal comemorativa da Ressurreição;
I- Benção do Fogo Novo e do Círio Pascal;
II- Procissão do Círio Pascal;
III- Leituras;
IV- Benção da Água Batismal
- Renovação das Promessas do Batismo;
V - Santa Missa Solene da Vigília Pascal, cantado pelo coral.
Confissões: das 16h às 18h30
Aviso: todos devem trazer velas para a cerimônia


Domingo de Páscoa da Ressurreição – 31 de março.

“Possa também eu, Senhor Jesus não temer. Não temer quando tudo parecer
perdido irremediavelmente. Não temer quando todas as forças da Terra parecerem postas
em mãos de vossos inimigos. Não temer porque estou aos pés de Nossa Senhora, junto
da qual se reagruparão sempre, e sempre mais uma vez para novas vitórias,
os verdadeiros seguidores da Vossa Igreja. “(Catolicismo, março de 1951)

10:30h - Missa para as crianças com distribuição de Ovos de Páscoa.
19h - Santa Missa Solene em honra do Mistério da Ressurreição, abrilhantado pelo coral da Igreja.